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Diagnósticos na infância: um processo que pede menos pressa e mais cuidado

06/08/2025

Saúde Mental Infantil

Diagnósticos na infância: um processo que pede menos pressa e mais cuidado
Muito se fala sobre os transtornos da infância, porém precisamos entender que isso exige cuidado. No artigo de hoje, iremos debater esse tema. Psicóloga Rafaela

Diagnósticos na infância: um processo que pede menos pressa e mais cuidado

Quando uma criança recebe um diagnóstico, seja ele de TDAH, TEA, dislexia ou outro transtorno do desenvolvimento, é comum que pais, cuidadores e professores sejam atravessados por muitos sentimentos:  confusão, alívio ou até mesmo o medo. Afinal, o que isso quer dizer sobre o futuro daquela criança? Vai mudar algo? Ela vai precisar tomar remédio?

Essas perguntas são legítimas e muito comuns. O que precisamos lembrar, acima de tudo, é que um diagnóstico não é uma sentença, mas uma ferramenta. Ele pode ser um ponto de partida para compreender melhor as necessidades daquela criança e pensar em formas mais adequadas de acolher, ensinar e cuidar. Mas, para isso, precisa ser feito com seriedade, ética e sensibilidade.

Nos últimos anos, tem se tornado cada vez mais frequente o que especialistas chamam de inflação diagnóstica: o aumento expressivo de crianças diagnosticadas com transtornos, especialmente no ambiente escolar. Crianças agitadas, distraídas, que se movimentam muito ou têm dificuldade com a leitura, por exemplo, muitas vezes são rapidamente encaminhadas para avaliação e, logo depois, medicadas. O risco aqui não está no diagnóstico em si, mas na forma como ele é feito e usado.

Diagnosticar é diferente de rotular. Um diagnóstico bem conduzido não pode se basear apenas em listas de sintomas ou em uma observação pontual. Ele precisa considerar o contexto da criança: sua família, sua escola, sua história de vida. Precisa ser construído ao longo do tempo, por profissionais qualificados e em diálogo com todos os envolvidos. Quando isso não acontece, corremos o risco de reduzir a criança ao laudo, esquecendo que ela é muito mais do que aquilo que não faz “como o esperado”.

É importante lembrar que nenhuma criança é um problema a ser corrigido. Cada uma tem seu tempo, seu modo de aprender, de se expressar e de se relacionar. Quando há sofrimento envolvido, seja para a criança, para a família ou para os professores —, buscar ajuda especializada é fundamental. Mas essa ajuda precisa vir com cuidado, escuta e respeito, e não com pressa ou julgamento.

Se o diagnóstico for necessário, que ele abra caminhos, e não feche possibilidades. Que ele venha como parte de um processo de cuidado, e não como um fim em si mesmo. Que ele ajude a proteger direitos, a garantir apoio e a promover desenvolvimento e nunca a silenciar aquilo que a criança tem a dizer com seu corpo, suas palavras ou seus gestos. Afinal, o que toda criança precisa é o que todos nós também precisamos: ser vista, escutada e respeitada na sua singularidade.

Referências:
ARAUJO, Fernanda Silva; SANTOS, Marília Gabriela Gonçalves dos. A infância marcada pela biopolítica da patologização e da medicalização. Revista Educação e (Trans)formação, v. 4, n. 10, p. 59-78, 2019. Disponível em: https://revistas.unijorge.edu.br/index.php/educacaoetransformacao/article/view/303. Acesso em: 5 ago. 2025.

SILVA, Carla; BAPTISTA, Cláudio Roberto. Fármacos, remédios, medicamentos: o que a Educação tem com isso? In: ROCHA, Adriana Inês Testa (org.). Medicalização de crianças e adolescentes: conflitos silenciados pela redução de questões sociais a doenças de indivíduos. São Paulo: Instituto Paulo Freire; Editora Autêntica, 2013. p. 61-73.
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